quinta-feira, 21 de abril de 2016

Bela, recatada e dólar

Uma reportagem publicada pela revista “Veja” traçando um perfil de Marcela Temer na última segunda-feira, vem fazendo barulho nas redes sociais. A mulher de Michel Temer, vice-presidente do Brasil, foi definida como “bela, recatada e do lar”.

A matéria provocou um tsunami de posts no Facebook,  criados por mulheres em tom de crítica à reportagem, fazendo  pipocar fotos de mulheres no bar, na pista de dança, bebendo com as amigas...sendo o que querem ser – e daí?

Toda essa zoação - mesmo publicada de forma sutil e ‘recatada’ (nunca é) - revela nada mais que o machismo não tem mais passe livre.

Prova disso? E se o vice-presidente fosse uma mulher de 75 anos casada com um jovem de 32 anos? A mídia acharia seu esposo exemplar por não trabalhar, ser do lar e dedicado à educação da prole? Ou o chamariam por gigolô interesseiro?

Por conta deste bafafá, vejo na internet algumas mulheres se revoltando e defendendo a quase primeira dama, titulando-a de a nova Grace Kelly, e nos chamando de invejosas, sendo que nem é esta a questão:  o X do problema está em julgar que a mulher é um exemplo a ser seguido só porque tem um rosto bonitinho... desde quando só é 'esposa perfeita' se está dentro de casa cuidando da prole e do marido? Se é que cuida né, porque com tanto dinheiro pode ter certeza que todas funções são delegadas à terceiros rs.

Cliquem na imagem abaixo que provo pelos comentários se não são descaradamente interesseiras... Agora nós, as emancipadas que estamos erradas?



O título da matéria deveria ser: "bela, recatada e dólar”, isso sim!

Eu não vejo mal nenhum em querer ser 'do lar' ou 'dólar', afinal, cada um tem o livre-arbítrio para fazer o que pensa ser o melhor para si, mas quando vejo mulheres que não precisam trabalhar abrindo mão da responsabilidade de educar seus filhos, e jogando esse dever para as escolinhas desde o berçário, compreendo o porque na geração atual as crianças são cada vez mais caprichosas e mimadas,,, mas até essas mulheres tem o direito de escolher, de não querer resumir suas vidas na única função materna, afinal, já comprovou-se que qualidade importa muito mais que quantidade. Mas se nos perguntarem, com certeza todas gostaríamos de acompanhar melhor o desenvolvimento dos nossos filhos: eu própria tive a oportunidade disso com o primeiro filho, mas não quis me resumir como mulher quando tive a segunda filha, na época soou restrito demais para tudo que sou capaz de fazer. E por mais que eu não queira ser totalmente feminista, meu exemplo o é:  me divorciei há 10 anos atrás, assumi sozinha três filhos, tive que abandonar o emprego onde o patrão era o ex-marido e sair procurar o que fazer... para tal não parava babá em casa, deixava filhos cada dia na casa de um parente para poder voltar a estudar, entre outras dores mais. Não é fácil assumir sua vida sozinha, assumir a educação dos filhos pequenos, arcar com as despesas da casa e ainda ter que economizar para diminuí-las, ser sempre criticada, perder amizades pois você passa a ser 'ameaça' ao casamento dos outros, não receber apoio emocional... financeiro não digo pois se o fator grana fosse tão importante eu continuaria casada.... um casamento não se resume a isto! Mas como já experienciei estar dentro falo em bom tom que prefiro estar fora e ter as rédeas das minhas escolhas. Sem falar que não tem preço se amar, se valorizar, ter sua liberdade e emancipação... é magnífico!

Esses dias vi um conhecido passar com um carro novo e reclamei que até aquele peão de fábrica conseguiu trocar de carro... do banco traseiro minha caçula levantou e me presenteou com um beijo (de reconhecimento) e disse: "mãe, entenda que ele não tem nenhum filho, enquanto você tem três!" E ela tem razão... e me fez sentir toda orgulhosa da pessoa que me tornei. 

Hoje reconheço que posso não agradar a todos, não estar dentro dos padrões de beleza procurados, mas por atrás das minhas ruguinhas e gordurinhas tem uma história de lutas, cicatrizes, mas principalmente, com aprendizados que me tornaram quem sou. Não preciso de platéia para me reconhecer uma diva, só tenho a dizer que eu sinto muito por aqueles e aquelas que julgam o que vêem. Mais por elas que criticam mulheres como eu, e enchem a boca para dizer que lugar de mulher exemplar é dentro do lar... algumas achando felizes mesmo aguentando uma vidinha medíocre, sendo descriminalizadas, humilhadas, chifradas, aguentando o tranco com o amante ou dopando-se de rivotril. Parabéns, você é corajosa. 

Porém, mais corajosa somos nós, donas-de-casa também, mães sim, menos valorizadas porque não somos aplaudidas pela sociedade, mas trabalhadoras e guerreiras, que encara qualquer tranco para poder pagar suas contas. 

Mas é mais cômodo e confortável estarem neste lugar, (mal) casadas, com as contas pagas e aplaudidas por toda sociedade.

Novamente parabéns: Deveriam ganhar o Oscar de melhor atriz, isso sim!

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